Como lidar com acúmulo de função no supermercado

Vamos falar sobre acúmulo de função? A gestão de supermercados é uma tarefa ampla e minuciosa. É preciso lidar com estoques, mercadorias, marketing e ainda dedicar um tempo para cuidar dos colaboradores. Porém, em alguns casos, o estabelecimento não possui estrutura suficiente para um departamento de Recursos Humanos e alguns detalhes importantes relacionados à produtividade e à satisfação dos funcionários são deixados de lado.

Desse modo, não há nenhuma descrição detalhada de cargos ou organização explicativa sobre a hierarquia de setores. Os verdadeiros talentos dos profissionais deixam de ser bem aproveitados e tudo isso resulta em um acúmulo de função. As consequências, então, podem ser graves e prejudicar bastante o andamento do negócio, que terá que lidar até mesmo com multas e providências judiciais, se for o caso.

Para evitar transtornos desse tipo, produzimos este texto mais completo. Trata-se de um guia para que empresários do ramo tomem providências corretas e se organizem de acordo com as determinações trabalhistas. Acompanhe-o com atenção e, em caso de dúvidas, lembre-se de que uma empresa especializada pode contribuir para um melhor direcionamento. Boa leitura!

Afinal, o que é acúmulo de função?

Sempre que acontece a contratação de um colaborador é dever do empregador fornecer o contrato completo de trabalho. Nesse documento são especificados o salário e todas as atividades do cargo preenchido. Sendo assim, aquele funcionário deverá exercer tão somente o que está descrito, sem nenhuma atribuição extra.

Se, em algum momento da vigência do contrato, o trabalhador passar a exercer outras tarefas que não foram registradas, isso pode ser considerado acúmulo de função. É fundamental ter atenção para decidir a quem cada funcionário vai responder, para que fique mais fácil identificar de onde veio a ordem de serviço e por que ela foi demandada sem respeitar o contrato.

Em grande parte das situações, o profissional também não recebe de acordo com esse aumento de funções, uma vez que não há nenhum registro afirmado a respeito daquilo. Porém, é importante destacar que este trabalho extra, para ser realmente confirmado como acúmulo, deve ser realizado com frequência. Funções delegadas periodicamente em ocasiões especiais não entram na lista.

Acúmulo de função × desvio de função

É importante ressaltar que o acúmulo de função não deve ser confundido com o desvio de função. Esse 2º caso acontece apenas quando o contratado é obrigado a exercer um cargo totalmente diferente daquele que consta em documento. Portanto, esteja atento à movimentação e à distribuição de afazeres para cada membro da sua equipe.

O contrato de trabalho é apenas uma formalização da relação entre empresa e empregado. Caso haja discordância, é preciso ter uma boa conversa a fim de expor o que se pensa a respeito da situação e negociar para que tudo seja mais bem esclarecido. Ou seja, nenhum dos lados pode impor algo e, em caso de desligamento, todos os direitos precisam ser recebidos pelo trabalhador.

A descrição de cargos em empresas

Gerir pessoas é um processo delicado, e é por isso que a descrição de cargos em empresas é tão importante. Por meio dele, é possível montar um programa de recrutamento e seleção, além de estabelecer um bom plano de carreira para estimular funcionários a crescerem e a aperfeiçoarem suas habilidades.

Essa descrição é ainda mais importante quando falamos em acúmulo de funções. Afinal, é ela que mostrará os cargos, as funções e as demais atribuições a cada funcionário, para que qualquer acréscimo seja evitado. Por exemplo: se um colaborador foi contratado como caixa e o serviço de estoque não está em descrição, ele não poderá ser realizado por aquela pessoa.

Ter um mapa de funções também é importante para que os colaboradores consigam reconhecer seu lugar dentro da empresa e ver o quanto sua função é importante. Assim, ele se sente mais entusiasmado para realizar suas atividades com cuidado e evita que tarefas sejam redistribuídas sem real necessidade.

Quando se trata da estruturação de plano de cargos, a questão salarial também está envolvida. Por isso, muitos gestores acham que ela se concentra apenas para regular a redução ou o aumento de gastos. Contudo, na verdade, ela se mostra como uma excelente estratégia para agregar valor ao negócio, sem deixar de beneficiar os trabalhadores que cumprem corretamente suas obrigações.

Por que o acúmulo de função ocorre e quais são os prejuízos?

Por vezes, o acúmulo de função acontece quando outro colaborador é desligado da empresa ou quando o negócio se expande muito rápido e não há outra pessoa qualificada para assumir as funções. Talvez a situação ocorra, também, em casos mais simples, como aumento da demanda ou uma desorganização interna. Seja qual for o motivo, os prejuízos podem ser grandes para todos os envolvidos.

1. Prejuízos para o empregado

O trabalhador que lida com acúmulo de funções, além de não ter remuneração adequada para suas funções, ainda pode passar por desgastes físicos e psicológicos. Afinal, ele exercerá uma carga horária maior, lidará com mais problemas e dedicará muito mais tempo ao ambiente de trabalho.

Esse excesso pode causar danos mais graves, como síndrome do pânico e crises de estresse, acarretando gastos médicos e até mesmo necessidade de licença, que interromperá todos os processos em que o trabalhador estiver envolvido. Além disso, suas atividades estarão suscetíveis a falhas e ele poderá se prejudicar em sua função principal.

2. Prejuízos para o empregador

Para uma organização, os prejuízos são ainda são mais marcantes. Não é incomum que a justiça seja acionada pelo trabalhador, para que ele tente assegurar seus direitos. Com isso, a empresa estará sujeita à penalização e pode ter que pagar multas e benefícios extras — o que causará uma perda financeira significativa.

Por ética, é complicado abafar esse tipo de caso. Assim, outros funcionários poderão ser afetados pela animosidade da situação, ficando desmotivados para prosseguir com suas atividades. Empresas também precisam ter em mente que têm uma imagem a zelar e que o modo como os colaboradores a enxergam é muito importante para a formação desse conceito. Quando ela é malvista pelo seu próprio público interno não adianta fornecer produtos e serviços de qualidade: o público externo também será afetado.

3. O que diz a lei sobre acúmulo de função

De acordo com o artigo 468 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), qualquer alteração no contrato deve ser feita com o aval e total conhecimento do trabalhador. Caso isso não aconteça, ele tem o direito de pedir a rescisão indireta desse documento e acusar o empregador de falta grave ao exigir funções extras ao que foi previamente combinado, conforme o artigo 483, A, da CLT.

Se a questão for considerada procedente pela justiça, o colaborador terá direito de receber verbas referentes à demissão sem justa causa, incluindo seguro-desemprego. Além disso, ele poderá solicitar que um pagamento extra a respeito do acúmulo de função seja feito. O pedido varia em sua afirmação de acordo com cada Tribunal Trabalhista.

Porém, se o acúmulo de função for mesmo comprovado, a indenização ao profissional é exigida, e sua forma de pagamento também pode ser determinada pela justiça, sem possibilidade de negociações. Sabendo disso, não hesite em verificar toda a documentação e as obrigações de seus funcionários para evitar reclamatórias trabalhistas e processos ainda mais graves.

Caso uma mudança urgente seja necessária e não houver acordo mútuo entre as partes, o artigo 486 da CLT configura mudança unilateral de contrato, que também gera penalização. Uma boa sugestão é contar com um apoio jurídico, ainda que terceirizado, para que você tenha respaldo profissional na resolução de problemas como este.

4. Como evitar acúmulo de funções?

O acúmulo de funções não ocorre a troco de nada. Ainda que seja repentino, é preciso entender os motivos pelos quais ele está ocorrendo e procurar soluções para interrompê-lo ou evitá-lo. A maioria das iniciativas é simples, mas é preciso fazer uma análise completa das condições da empresa para ver o que é mais condizente de aplicação. Veja algumas delas:

1. Contrate mais funcionários

Se há aumento de demanda e, por isso, houve acúmulo de função, é hora de contratar mais funcionários para não acrescentar atividades na rotina de quem já é contratado. Avalie suas questões financeiras e veja se é possível chamar novos profissionais para a empresa, ainda que apenas por meio período.

Dessa forma, você poderá organizar melhor as tarefas do supermercado e descobrirá quais são os pontos de atenção: se é o caixa, o estoque, o atendimento ao cliente ou outros setores internos. Porém, só faça isso com a certeza de que as atividades ficarão bem distribuídas, pois de nada adianta um novo membro na equipe se ele também tiver que exercer funções extras.

2. Promova a qualificação dos colaboradores

Colaboradores bem treinados apresentam uma qualidade de trabalho ainda melhor. Portanto, invista em workshops, treinamentos e cursos de especialização. Além de adquirir mais conhecimento, eles verão essa atitude como um incentivo para desenvolver seus talentos e mostrarão mais satisfação e produtividade no exercício de suas atividades.

Além disso, um profissional qualificado tem mais autonomia e precisão para cumprir sua função, de modo que dificilmente ela cairá nas mãos de outro colaborador. As tarefas estarão bem divididas e cada um dará conta do que lhe foi proposto.

3. Tenha uma boa comunicação interna

Dentro de uma empresa, seja pequena ou grande, uma boa comunicação é fundamental. Ela é o ponto de partida para que funcionários e instituição se entendam e haja liberdade na troca de ideias e na imposição de regras. Mostre sempre que você está disposto a ouvir seus funcionários e procure deixá-los a par de tudo o que acontece na empresa.

Hoje, e-mails e redes sociais corporativas dão conta desse recado, mas não substituem uma boa reunião ou confraternização. Essas oportunidades são excelentes para reconhecer bons desempenhos, comemorar resultados e ainda fazer comunicados mais sérios ou importantes.

4. Invista em ferramentas que otimizem a gestão e o dia a dia dos funcionários

A tecnologia ajuda a vender mais. Atualmente, plataformas e sistemas de gestão ganharam muito destaque no mercado. Com um smartphone simples e conexão à internet é possível acompanhar o passo a passo de suas equipes (inclusive as externas), delegar funções, redistribuir tarefas e compartilhar dados e planilhas, otimizando o workflow.

Com elas, é notável a queda de erros humanos e a agilidade de processos. Não é preciso telefonar ou perder tempo algum para delegar essas questões, o gestor acompanha absolutamente tudo em tempo real. Porém, é necessária uma boa conversa com os colaboradores para mostrar que essa iniciativa não se trata de controle excessivo, mas sim de uma maneira de administrar tarefas para que não haja acúmulo nem desvio de função.

5. Ofereça um salário justo

Normalmente, o empregado brasileiro recebe mensalmente, e não por tarefa executada. A legislação brasileira defende a remuneração por salário mínimo e o piso salarial da categoria, que não configura qualquer adicional relacionado ao acúmulo de função.

Ter um salário justo e atrativo para o profissional é essencial para mantê-lo focado em suas atividades e para que ele tenha consciência de que está recebendo por tudo o que faz diariamente. Tenha cuidado ao fazer cortes ou deixar de reconhecer possíveis promoções para que eles não se sintam desestimulados e deixem suas funções de lado.

Conclusão

Ainda que definir uma estrutura organizacional com a devida hierarquia de cargos e distribuição de funções seja um processo trabalhoso, ele é fundamental para garantir a segurança, o respeito aos colaboradores e uma tranquilidade maior para que o supermercado continue exercendo suas atividades.

Mesmo que seu negócio seja de porte menor, procure estruturar um pequeno setor de Recursos Humanos, de Gestão de Pessoas ou contrate consultorias na área para oferecer mais qualidade de vida aos seus funcionários e fazer com que eles se sintam valorizados. Não se esqueça de se informar adequadamente a respeito de direitos trabalhistas, inclusive de acordo com funções e profissões diferentes, pois cada uma tem determinações muito específicas a serem respeitadas.

Procure sempre ser honesto com cada colaborador e ofereça remunerações adequadas. Sempre que possível, inclua um programa de benefícios — como plano de saúde, plano odontológico, vale-transporte e vale-refeição — para complementar a renda e agir de maneira justa diante do desempenho de sua equipe.

Supermercados têm um movimento alto como qualquer outro estabelecimento de varejo. Nesse cenário, ter funcionários motivados e confiantes garante clientes mais satisfeitos e com vontade de voltar.

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